Ninguém espera ser pego de surpresa e ter que dedicar-se ao cuidado de um familiar doente, um idoso ou uma criança com necessidades especiais, não é mesmo?
Aliás, este é um dos gestos mais generosos que existem. Mas essa jornada, embora repleta de amor, é também exigente. Eu vejo muito que, na dedicação ao outro, o cuidador acaba esquecendo de si mesmo e vai colocando sua própria saúde mental “para escanteio”. Esse cenário de estresse e sobrecarga, como já discutimos aqui no blog em outros contextos, pode levar a um esgotamento profundo, conhecido como burnout do cuidador, impactando severamente o bem-estar.
A carga (in)visível do cuidado diário
Ser cuidador envolve uma carga emocional alta: lidar com o sofrimento do outro, gerenciar comportamentos difíceis, oferecer apoio constante. Juntamos tudo isso ao cuidado físico (ajudar na mobilidade, higiene), a logística (consultas médicas, administração de medicamentos, questões financeiras) e, muitas vezes, o isolamento social, já que a rotina de cuidados consome tempo e energia que antes eram dedicados a amigos, hobbies e descanso. Essa pressão constante, dia após dia, sem pausas ou um fim definido, coloca o corpo e a mente em um estado de alerta permanente.
Sinais de alerta: quando o copo transborda
Não tem fórmula mágica: é preciso ter consciência de suas decisões e procurar ajuda. Com toda certeza os cuidadores ficam imersos no dia a dia que lhes compete e dão o seu melhor, mas para cuidar de alguém, é necessário conhecer os próprios sentimentos. Saiba como o burnout do cuidador pode se manifestar:
- Físicos: exaustão que não melhora com o descanso, alterações no padrão de sono (insônia ou sono excessivo), mudanças no apetite (comer demais ou de menos), dores de cabeça ou musculares frequentes, maior vulnerabilidade a infecções.
- Emocionais: irritabilidade constante, ansiedade, sentimentos de tristeza ou desesperança, culpa por não fazer “o suficiente” ou por sentir ressentimento, perda de interesse em atividades que antes davam prazer.
- Comportamentais: Afastamento de amigos e familiares, negligência com a própria saúde (pular refeições, adiar consultas médicas), impaciência ou rispidez com a pessoa cuidada, dificuldade de concentração.
O impacto na saúde do cuidador
Ignorar os sinais pode trazer resultados graves. O estresse eleva os níveis de cortisol, o que, como sabemos, pode desregular o metabolismo, aumentar a pressão arterial e contribuir para problemas cardiovasculares. A imunidade fica comprometida, e o risco de desenvolver transtornos de ansiedade e depressão aumenta significativamente. Cuidar da saúde do cuidador não é apenas importante para ele mesmo, mas também para a qualidade do cuidado que ele oferece.
Autocuidado: Necessidade, não luxo
Vejo cuidadores sentindo culpa ao pensar em tirar um tempo para si. Esse ato, além de não ajudar a própria saúde, não ajuda na rotina de quem precisa dos cuidados. Vamos enxergar o autocuidado como uma ferramenta para sustentar a jornada de cuidados a longo prazo. Lembre-se da analogia da máscara de oxigênio no avião: você precisa colocar a sua antes para então poder ajudar o outro. O que isso significa na prática?
- Aceite ajuda: ninguém consegue fazer tudo sozinho. Que tal dividir as tarefas com outros familiares, contar com a presença de amigos ou até mesmo contratar ajuda profissional, mesmo que por poucas horas, se houver condições para tal. Existem grupos de apoio para cuidadores: ouvir outras experiências alivia o fardo.
- Micro-pausas: Mesmo 5 ou 10 minutos podem fazer diferença. Respire fundo, ouça as músicas que gosta, tome um café/chá com calma, saia para pegar um pouco de sol.
- Não se isole: Mantenha contato com amigos, mesmo que seja por telefone ou mensagens. Preservar suas conexões sociais é vital.
- Cuide do básico: Faça o possível para manter uma alimentação minimamente equilibrada, não adie suas próprias consultas médicas e tente incluir alguma atividade física leve na rotina, como uma caminhada curta.
- Valide seus sentimentos: É normal sentir cansaço, frustração, raiva ou tristeza. Permita-se sentir sem julgamento.
Conclusão
Ser cuidador é uma maratona, não uma corrida de curta distância. Reconhecer os desafios, validar os próprios sentimentos e priorizar o autocuidado são passos fundamentais para preservar a saúde mental e física. Cuidar de si mesmo não é egoísmo: é o que permite continuar cuidando de quem você ama com mais qualidade, paciência e bem-estar.
Este artigo oferece informações gerais. Se você é cuidador e está se sentindo sobrecarregado, ansioso, deprimido ou percebendo impactos na sua saúde física, agende uma consulta. Você não precisa passar por isso sozinho(a).
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