“De repente vem um arrepio, um nó na garganta e o coração dispara. Sinto o corpo todo tremer, meus dedos começam a formigar, a respiração começa a ficar ofegante como se o ar não entrasse nos pulmões. Me desespero. As outras vezes podem ter sido crises de pânico mas essa… ah essa, eu tenho certeza que estou infartando!”
Esse é um típico episódio que ocorre nos portadores de Síndrome do Pânico, um transtorno de ansiedade caracterizado por crises bruscas de medo e desespero que afeta (e muito) a qualidade de vida destas pessoas.
O Brasil é o primeiro do ranking mundial em taxa de pessoas com transtornos de ansiedade (quase três vezes mais que a média mundial) de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Cerca de 9,3% dos brasileiros (ou seja, mais de 18 milhões de pessoas) estão nessa situação.
Além dos sintomas já citados como palpitações, taquicardia (coração acelerado), tremores, sensação de não conseguir respirar e medo de morrer; pode haver também sudorese, náuseas, tonturas, medo de perder o controle, entre outros.
Durante a crise é comum a pessoa ter uma reação comportamental de pânico e sair à procura de socorro, procurando várias vezes o Pronto-Socorro, recorrendo a cardiologistas e fazendo diversos exames cardíacos que, embora normais, não a deixam segura. Insegurança que, aliás, afeta a qualidade de vida do paciente pois quem tem síndrome do pânico sofre durante as crises e ainda mais nos intervalos entre uma e outra, pois não faz a menor idéia de quando elas ocorrerão novamente…
Mas, afinal de onde vêm os sintomas?
Existe uma crença de que as doenças psiquiátricas não causam sintomas físicos e a Sdr. Pânico é uma das que comprova que isso não é verdade.
Nada é puramente psicológico porque fenômenos psicológicos passam e são processados pelo cérebro.
O cérebro produz substâncias chamadas neurotransmissores que são responsáveis pela comunicação que ocorre entre os neurônios (células do sistema nervoso), as quais formam mensagens que irão determinar a execução das atividades físicas e mentais diárias de nosso organismo (ex.: fome, sono, prazer, tristeza…). Um desequilíbrio na função desses neurotransmissores pode levar algumas partes do cérebro a transmitir informações e comandos incorretos. Isto é exatamente o que ocorre em uma crise de pânico: existe uma informação incorreta alertando e preparando o organismo para uma ameaça ou perigo que na realidade não existe e essa informação incorreta leva à liberação de substâncias no sangue que fazem o coração acelerar, a respiração ficar ofegante e todos os outros sintomas do pânico. O grande problema é que, como não estamos diante do “perigo iminente” não prestamos atenção em outra coisa a não ser nas reações que nosso corpo fabricou erroneamente e achamos que estamos passando mal, infartando, morrendo…
Como evolui a doença se não tratada?
Geralmente, depois da primeira crise ocorrem outras – duas a quatro por semana – que vêm e passam. A partir de então, se não tratada, num período que se estende até cinco anos, uma série de consequências começa a manifestar-se. A pessoa tranquila de antes se torna tensa devido à expectativa da próxima e inesperada crise.
Se antes possuía uma personalidade relaxada e autoconfiante, fica insegura e leva uma vida mais restrita. Em longo prazo, 60% dos pacientes com pânico apresentam depressão e 12% tentam suicídio.
Existe também uma associação entre transtorno do pânico e alcoolismo secundário como forma de autotratamento contra a ansiedade.
Como é o tratamento?
O que se sabe hoje é que a técnica de combinar medicamentos e terapia cognitivo-comportamental é a mais eficiente.
A terapia de exposição baseia-se na capacidade de o ser humano habituar-se ao estresse. É como se assistíssemos a um filme de terror 15 vezes. Na primeira vez, os cabelos ficam em pé. Na segunda, como já se sabe o que vai acontecer e a reação é menos intensa. Na última, o filme já não expressa mais nenhuma resposta emocional.
Os medicamentos utilizados são os antidepressivos, que atuam regularizando o desequilíbrio das substâncias cerebrais presente na doença.
Como saber se o que sinto é Síndrome do Pânico?
Na síndrome de pânico o paciente possui ataques de pânico recorrentes e inesperados ou pelo menos um dos ataques foi seguido por 1 mês (ou mais) de uma (ou mais) das seguintes características:
( ) Preocupação persistente acerca de ter ataques adicionais;
( ) Preocupação acerca das implicações do ataque ou suas consequências (por exemplo: perder o controle, ter um ataque cardíaco, “ficar louco”);
( ) Uma alteração comportamental significativa relacionada aos ataques.
Caso se identifique com as características citadas, procure um médico psiquiatra. Você pode estar com Síndrome do Pânico!
Estou à disposição para solucionar qualquer dúvida que você possa ter e ficarei muito feliz em responder aos seus comentários sobre este assunto. Leia outros artigos e conheça mais do meu trabalho como psiquiatra em Lucas do Rio Verde.