Depressão na Adolescência

Como a cultura molda nossas emoções e transtornos?

Tristeza, medo e preocupação são conhecidos por toda a raça humana. Desde nascidos, experimentamos todas essas sensações. Mas vou garantir: a forma como vivenciamos e compreendemos essas emoções, e como elas podem evoluir para transtornos mentais como ansiedade ou depressão, é profundamente influenciada pelo nosso contexto cultural. 

Como assim? Vamos lá! Enquanto muitos artigos focam nos aspectos biológicos e psicológicos da saúde mental, vamos reconhecer o poderoso papel que a cultura e os valores sociais desempenham em nossa mente. Talvez estudar essa diversidade nos ajude a ter um olhar mais completo e empático sobre o bem-estar.

A Cultura 

A cultura e os valores de cada sociedade funcionam como uma lente pela qual interpretamos o mundo e nossas próprias experiências. A cultura nos dá um conjunto de crenças, valores, normas de comportamento e até mesmo uma linguagem específica para descrever o que sentimos. O que é considerado uma expressão “normal” de angústia em uma sociedade pode ser visto como exagerado ou inadequado em outra. Por exemplo, algumas culturas valorizam a demonstração aberta de emoções, enquanto outras incentivam a reserva (que para nós parece uma “frieza”). Isso não significa que as pessoas sintam menos, mas sim que a forma de expressar é diferente.

Como a angústia se manifesta: 

Essa lente cultural influencia diretamente como os transtornos mentais se “apresentam”:

  • Somatização: Em muitas culturas, especialmente onde há mais estigma em relação a problemas emocionais, a angústia psicológica pode se manifestar predominantemente através de sintomas físicos. Dores de cabeça, fadiga crônica, problemas digestivos ou dores generalizadas podem ser a principal queixa, em vez de relatos de tristeza ou ansiedade. É o corpo “falando” o que a mente, por barreiras culturais, não consegue expressar verbalmente.
  • Expressões idiomáticas de sofrimento: A forma de descrever o sofrimento varia. O que em um contexto ocidental pode ser classificado como um transtorno de ansiedade, em outro pode ser descrito como “nervos à flor da pele” (ataque de nervios em algumas culturas latinas), medo de feitiçaria, ou uma desarmonia espiritual. Essas expressões carregam significados culturais específicos que vão além dos diagnósticos padrão.
  • Percepção da depressão: Enquanto a culpa ou a baixa autoestima são sintomas clássicos da depressão no Ocidente, em outras culturas, a vergonha perante a família ou a comunidade pode ser um sentimento predominante.

A cultura também dita como a sociedade percebe os transtornos mentais e se a busca por ajuda é encorajada ou vista como sinal de fraqueza. Em algumas comunidades, o apoio familiar e comunitário é a primeira linha de “tratamento”, enquanto em outras, a intervenção médica ou psicológica é mais aceita. O próprio idioma pode ser uma barreira; algumas línguas não possuem palavras equivalentes para “depressão” ou “ansiedade” como entendidos clinicamente, dificultando a comunicação da experiência.

Para nós, profissionais de saúde, reconhecer essa diversidade cultural é fundamental. Um paciente pode não relatar “ansiedade”, mas descrever palpitações e falta de ar que, dentro de seu contexto cultural, ele interpreta de outra maneira. Ouvir atentamente a narrativa do paciente, em seus próprios termos, é essencial para um diagnóstico e cuidado adequados. Ignorar essas nuances pode levar a um sofrimento não reconhecido, impactando não apenas a saúde mental, mas também a saúde física geral, pela ligação conhecida entre estresse crônico e diversas doenças.

Conclusão

A saúde mental é tecida nos fios da nossa cultura. Entender como valores e crenças sociais moldam a expressão e a percepção do sofrimento psicológico nos permite ter uma abordagem mais humana, eficaz e respeitosa ao bem-estar. Precisamos ir além dos modelos universais e abraçar a riqueza da diversidade cultural na experiência da saúde mental.

Este artigo é informativo e busca ampliar a compreensão sobre o tema. Se você está enfrentando sofrimento emocional ou mental, agende uma consulta e fale sobre sua experiência, incluindo seu contexto cultural. Buscar ajuda profissional é um passo importante para o cuidado da saúde.

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