No intrincado labirinto das interações humanas, a comunicação se apresenta como a ferramenta primordial para construir pontes de entendimento ou, infelizmente, erguer muros de conflito. Como médica psiquiatra, testemunho diariamente o impacto profundo que a qualidade da nossa comunicação exerce sobre a nossa saúde mental e a dos que nos cercam. A Comunicação Não Violenta (CNV), um processo desenvolvido pelo psicólogo Marshall Rosenberg, emerge como uma abordagem poderosa para transformar a maneira como nos relacionamos, promovendo a empatia, a compreensão mútua e, consequentemente, um maior bem-estar emocional.
A CNV se baseia em quatro componentes fundamentais, que nos guiam para uma expressão autêntica e uma escuta empática:
- Observação: O primeiro passo consiste em observar os fatos concretos de uma situação, sem julgamentos ou avaliações. Trata-se de descrever o que vemos, ouvimos ou tocamos que está afetando o nosso bem-estar. Em vez de dizer “Você sempre me interrompe!”, uma observação seria “Quando você fala enquanto estou falando…”. A chave aqui é separar a observação do julgamento.
- Sentimentos: Em seguida, identificamos e expressamos os sentimentos que essa observação desencadeia em nós. É crucial distinguir sentimentos de pensamentos ou interpretações. Dizer “Sinto que você não me respeita” é uma interpretação, enquanto “Sinto-me frustrado” expressa um sentimento genuíno. Nomear nossos sentimentos nos permite reconhecer nossas necessidades subjacentes.
- Necessidades: O terceiro componente envolve identificar as necessidades universais que estão por trás dos nossos sentimentos. Nossos sentimentos são indicadores de que nossas necessidades estão sendo atendidas ou não. A frustração, no exemplo anterior, pode estar ligada à necessidade de ser ouvido, de respeito ou de consideração. Reconhecer a necessidade comum a todos os seres humanos nos conecta em um nível mais profundo.
- Pedidos: Finalmente, formulamos um pedido claro, específico e realizável para atender às nossas necessidades. Um pedido se diferencia de uma exigência por deixar espaço para a escolha do outro. Em vez de “Você tem que me escutar!”, um pedido seria “Você poderia me ouvir terminar minha frase antes de falar?”. O pedido deve ser expresso de forma positiva, indicando o que desejamos que aconteça, e não o que não desejamos.
A beleza da CNV reside em sua capacidade de transformar a comunicação de uma batalha por ter razão em um diálogo de necessidades. Ao expressarmos nossas observações, sentimentos e necessidades de forma clara e não acusatória, e ao escutarmos o outro com empatia, buscando compreender seus sentimentos e necessidades por trás de suas palavras, criamos um espaço para a compreensão mútua e para a busca de soluções que atendam a todos os envolvidos.
A prática da CNV não é uma fórmula mágica que elimina todos os conflitos, mas oferece um caminho poderoso para abordá-los de maneira mais construtiva. Ela nos convida a cultivar a empatia, a capacidade de nos colocarmos no lugar do outro e de compreendermos sua perspectiva, mesmo que não concordemos com ela. A empatia não significa concordância, mas sim um esforço genuíno para entender os sentimentos e necessidades do outro.
Os benefícios da CNV para a saúde emocional são vastos. Ao aprendermos a expressar nossas necessidades de forma assertiva e não agressiva, reduzimos a frustração e o ressentimento. Ao escutarmos com empatia, fortalecemos nossos relacionamentos e cultivamos um senso de conexão e compreensão. A CNV nos ajuda a lidar com conflitos de forma mais eficaz, reduzindo o estresse e a ansiedade associados a desentendimentos e mágoas.
Integrar a CNV em nossa vida diária requer prática e intenção. Inicialmente, pode parecer desafiador identificar nossos sentimentos e necessidades com clareza e formular pedidos específicos. No entanto, com o tempo e a dedicação, essa abordagem se torna mais natural e intuitiva, transformando a qualidade de nossas interações e, consequentemente, nosso bem-estar emocional.
Como médica psiquiatra, recomendo a exploração e a prática da Comunicação Não Violenta como uma ferramenta valiosa para construir relacionamentos mais saudáveis, expressar nossas necessidades de forma autêntica e cultivar a empatia em nossas vidas. Ao aprendermos a nos comunicar com mais consciência e compaixão, contribuímos não apenas para o nosso próprio bem-estar, mas também para a criação de um mundo mais conectado e harmonioso.
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