Para melhor abordar o tema central desse artigo – o transtorno relacionado à orientação sexual, chamado de orientação sexual egodistônica – o primeiro passo é, de forma breve, tentarmos isolá-lo dos demais transtornos sexuais, como forma de reduzir as dificuldades de entendimento, induzida pela série de abordagens da sexualidade dissociadas do tratamento científico da questão.
É essencial, para que se tenha uma compreensão da importância de tratar o tema com responsabilidade, que as pessoas tenham a percepção do papel da sexualidade na qualidade de vida e na saúde do indivíduo. É por essa razão que qualquer quadro que possa representar sofrimento deve ser investigado à luz da medicina e da psiquiatria, de modo a qualificar o diagnóstico e o tratamento.
Com base na Classificação Internacional de Doenças, os transtornos da sexualidade estão divididos em três grupos
O primeiro deles é o das disfunções ou transtornos sexuais, que são os mais comuns, envolvendo problemas como ejaculação precoce e disfunção erétil, nos homens, anorgasmia, desejo hipoativo e transtorno de lubrificação, nas mulheres. O tratamento para esses problemas inclui a combinação de terapia sexual com psicofarmacologia.
O segundo grupo é o dos transtornos de preferência, que estão ligados a impulsos, fantasias e práticas incomuns sistemáticas, em sua maioria quando a finalidade não está relacionada ao sexo ou a procriação. Estamos falando de quadros como o voyeurismo, o exibicionismo, a pedofilia, o sadismo, o masoquismo e o fetichismo.
A orientação sexual egodistônica
Para que o conceito fique claro, é essencial, antes de tudo, esclarecer que tanto à luz do Conselho Federal de Psicologia quanto de Medicina, é proibida qualquer abordagem terapêutica que considere a homossexualidade como doença, desvio psicológico, perversão ou qualquer tipo de patologia.
Da mesma forma, a homossexualidade não deve ser tratada como uma escolha, mas como uma orientação, que, em geral, se consolida na adolescência. Tal tese se sustenta em recorrentes depoimentos de pessoas com orientação não heterossexual, que, em função das características do meio e conflitos interiores, tentaram por muito tempo, sem sucesso mudar a própria orientação.
É dentro desse processo de não aceitação que surge a orientação sexual egodistônica, que acontece quando o indivíduo, ciente de sua orientação sexual, rejeita sua homossexualidade ou bissexualidade. Trata-se de uma condição em que o indivíduo está sujeito a transtornos psicológicos e comportamentais, podendo o quadro evoluir para situações como depressão e até mesmo levar à tentativa de suicídio.
O papel do profissional de saúde, nesse caso, é auxiliar o indivíduo, primeiro, a compreender que o transtorno não é a orientação em si, mas o sofrimento decorrente da não aceitação; segundo, tentar desenvolver no paciente o entendimento de sua condição, tratando as angústias e o sofrimento relacionados a esse conflito. Enfim, a finalidade do tratamento é fazer com que o indivíduo se sinta melhor consigo mesmo.
A sociedade e os transtornos relacionados à orientação sexual
Não é difícil imaginar a que tipos de conflitos está submetido o indivíduo que se depara com problemas de aceitação relacionados ao fato de possuir uma orientação sexual que não se alinha com seu ideal de correto.
Tentativas de tratamento para mudar essa orientação não produzem efeito e só causam mais angústia. Sendo assim, o melhor caminho para o tratamento dos transtornos relacionados à orientação sexual é a informação.
Quer saber mais? Estou à disposição para solucionar qualquer dúvida que você possa ter, e ficarei muito feliz em responder aos seus comentários sobre este assunto. Leia outros artigos e conheça mais do meu trabalho como psiquiatra em São Paulo.